terça-feira, 31 de março de 2015

RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS



Para a maioria das famílias, um dos grandes desafios da convivência é o relacionamento entre pais e filhos, principalmente quando estes entram na adolescência. Assim, a psicóloga Roneida Gontijo Couto, responde algumas dúvidas muito frequentes sobre o assunto:

1. Existe a possibilidade de uma relação entre pais e filhos sem nenhum conflito?
Qualquer relação possui uma possibilidade de conflito, seja em família ou em relações sociais e profissionais. Quanto mais próxima for a relação, mais afeto existe e mais cuidado se espera. A relação entre pais e filhos é, portanto, uma relação cuidadora. Mas, no momento da adolescência, o filho está se distanciando de seus pais em busca de uma identidade nova, na qual ele agora é responsável. E os pais, por sua vez, apresentam uma grande dificuldade em aceitar esse crescimento do filho. Nesse momento, percebemos opiniões contrárias e, consequentemente, conflituosas.

2.Quais fases da vida dos filhos são mais propensas a crises, conflitos e discussões?
Quando começa a pré-adolescência, por volta dos 11, 12 anos, em que os valores adquiridos na infância são reformulados e vão se assimilando numa nova estrutura que busca maturidade. A adolescência é uma época de imaturidade em busca de maturidade. É uma fase de transição, de instabilidade e sentimentos confusos. Nessa fase, os filhos precisam de conselhos, mas fogem deles, revoltam-se contra a proibição da família, criando aí grandes conflitos.

3- O dito popular “pai e mãe têm sempre razão” é uma verdade absoluta? 
Acredito que, para algumas famílias, esse ditado não se aplica há muito tempo, pois há muitos casos em que os filhos tendem a controlar as famílias. Porém, quando isso acontece, a hierarquia é invertida, gerando um descontrole no sistema familiar. Então, o ditado poderia ser modificado no sentido de enriquecer a relação de maneira saudável, fazendo uma construção positiva na relação para ambas as partes. O aprendizado pode ser adquirido de ambas as partes, desde que todos estejam abertos a ele.

4- Como orientar os filhos sem obrigá-los a fazer o que os pais acham que é certo?
Percebo que alguns pais possuem um sistema extremamente autoritário, e como os adolescentes tendem a se achar muito sábios e fortes (até mesmo mais que os pais), eles se sentem ameaçados por essa autoridade, e podem se rebelar ou enfrentar esses pais.!
Existem várias maneiras de passar um ensinamento para os filhos. O mais importante é fazer com que ele compreenda a realidade da situação e fazê-lo refletir. Mas esse deve ser um hábito ensinado de preferência desde a infância, pois a adolescência, conforme falei, é uma fase de transição, sentimentos contraditórios e instabilidade.

5- E se for inevitável e o filho cometer erro, é certo dizer o tradicional “eu te avisei”?
Acredito que o melhor no momento de um erro é fazer o adolescente refletir.

O relacionamento entre pais e filhos é uma das muitas questões trabalhadas no Projeto Adolescer. O projeto consiste em encontros descontraídos, em que os adolescentes vão aprender a lidar melhor com as mudanças que ocorrem nessa fase da vida. As inscrições para o projeto começam em breve. Fiquem atentos!

segunda-feira, 2 de março de 2015

Conectar criança interior gera flexibilidade e criatividade



Crianças, em geral, são seres "absorventes". Chame-as de esponjas, aspiradores de pó, buracos-negros ou mata-borrões. Elas tragam o mundo que as cercam, absorvem-no com gosto, lambuzam a cara, sujam as mãos e mantêm-se sempre, acima de tudo, abertas ao novo. Talvez por isso sejam, também, seres flexíveis, dispostos a reconstruir seus castelos repetidas vezes, sempre que a maré teimar em destruí-los.

E da flexibilidade deriva o potencial criativo, que transforma em elmos formidáveis alquebradas caixas de panetone. E do criativo surge o lúdico, o riso solto que, tão perfeitamente, definem o que é um ser-criança.

Para a julgarmos como um ser "puro" é um passo. Seria uma das muitas representações sociais acerca das crianças que, ao longo da história, já foram ignoradas, vistas como adultos mal-acabados e hoje são intensamente valorizadas, talvez pelo seu estereótipo de pureza, mas também por questões da mídia e do mercado consumidor, entre outras razões para tal. Mas prefiro fugir dessa armadilha e classificar a criança apenas como um ser "crédulo".

E como não sê-lo diante de tamanhos recursos? Uma criança acredita no Coelho da Páscoa, na Fada do Dente, no Monstro do Armário, no elmo de caixa de panetone; e também nos seus pais, no amigo que acabou de fazer brincando na praia, no papai do céu, na abundância da vida.

Indo ao ponto que nos interessa nesta reflexão, o fato é que uma criança não reflete sobre o sentido da vida e, no entanto, poucos adultos conseguem vivê-la tão intensamente como fazem os pequeninos. É quando enxergo uma correlação positiva entre ausência de sentido hoje experimentada pelos adultos e a intensa valorização infantil. Tanto mais a sociedade se entristece (e "adultece"), mais a criança é endeusada, tomada como potencial redentora de um mundo que falhamos ao construir. 

A criança, por fim, possui características que a maturidade parece nos roubar. Na maioria das vezes, tornar-se adulto é um processo lento de "endurecimento", que leva consigo não apenas o que tínhamos de melhor, mas, sobretudo, nossos melhores recursos para lidarmos com a falta de sentido. Talvez seja por isso que, historicamente, nossa sociedade venha valorizando a criança cada vez mais.

Em outras palavras, parece que, inconscientemente, o homem tem caminhado em direção àquilo que seria capaz de salvá-lo da anomia e do desespero: o resgate de sua criança interior.